Imperativo per verso

A outra

Na margem

Periférica

Sou eu, a nossa

La nuestra América

Faz do sul, o norte

Inverte o fluxo de morte

Toma o seu lugar

O centro,

O lugar onde você está

Agora.

O seu corpo.

A terra.

Rompe, destrói as margens

Barragens, mistura o barro,

Faz dele, o vermelho

Vermelho de todas as cores.

Abya Yala

Nossa hemorragia é o fluxo.

O rio.

O fio.

Rompe o movimento perverso.

Estanca o sangue.

Eu falo.

Falo.

Perverso.

Verso.

Fala.

Diz.

Diz.

Curso.

Dis-curso.

Fala, a fala,

Minha fala

Quando me deixarem falar.

Rebento.

Arrebento.

Arrebenta.

E chora.

Do gozo do perverso,

Faz verso.

Transforma o per em verso.

Per-verte.

Per-verse.

Per-verso.

Rompe as bordas, limites.

Nasce de novo.

Crava o mastro.

Qual mastro?

O nosso.

A nossa flâmula

Trêmula.

Bruxa.

Bruxulear, ressoar, cintilar.

No movimento reverso, per-verso do ser.

Mastro cravado vira fluxo hemorrágico.

Presente.

Agora.

Não mais, agora.

Agora.

Agora.

Agora.

Agora costuro meu corpo,

mas não costuro minha vida

Sou o ninho

Sou o fio

Sou o sangue

Sou a pele

Sou o fluxo

Sou o rio

Transverto a carne e sou.

Poema Profundo / Amazônia

Começo.

Ela se fez vida

Nela, foi o princípio

Abundância

Em todas as suas entranhas

Pulsa, pura, primitiva

Ela é terra, água e ar

Ela é tudo que existe

Porque sem ela não existe mar

Meio, entre começo e fim.

Como um coração, bombeia a seiva

Seu corpo não tem limite

Onipresente

São muitos corpos

Vivos,

Feitos de matéria e forma diferente

Das suas artérias

Ela é a Floresta que faz vida

No mais distante Ártico

No mais próximo Sertão

Então,

De água, terra e ar

Nasceu seu filho Homem

Elementar

Um dia, enlouquecido

Voltou-se contra si mesmo

Esse, que nasceu da sua placenta

Floresta universal

A mata

Atlântica

A selva

Amazônica,

A Taiga, Savana, Estepe, Tundra e Pluviais

Ele levantou,

Atravessou fronteiras

E do alto da sua cegueira

Enxergou dor

Fez diferença e segregou

Dos muros que construiu,

Extraiu horror

Tornou-se besta, a fera

Na esfera da morte

Alimentou-se de seus irmãos

Engoliu o próprio coração

Esse, filho de homem

Ateou fogo da mão

E perverso

Cometeu filicídio

Matou a Mãe

Detentora das almas, dos animais

Genocídio na Floresta

Suicídio

Ateou fogo no pé,

O corpo todo ao chão

Matou a própria vida

Aquela que nutre

Coração e pulmão

Cego pelo ódio,

Fez, no futuro, seus filhos sufocados

Não mais Mãe, Filho, do Pai

Carrasco, canibal

Do mundo, da vida animal.

Fim.

Eu Quero

Alçar voo para o abismo.

Viver com o coração na boca.

Ser um bicho selvagem e uma alma sublime, antagonicamente.

Tocar o céu e o inferno ao mesmo tempo.

Não pedir licença para desejar a vida.

Submergir na dor e emergir para o amor.

Recriar as minhas vísceras fora de mim.

Conversar com o coração, uma conversa surda e profunda como palavras dentro d’água. Jorrar o gozo divino do corpo carnal.

Eternizar, no nada, o ato revolucionário de um gesto efêmero.

Brincar de raposa com os seres que acreditam ser o mundo um galinheiro.

Provocar em ti o amor e o ódio, na mesma medida, para que me enlouqueça de desejo e mostre seu ardor.

Ser capaz de compreender o mundo complexo e genial que você habita.

Morar no seu planeta mesmo sabendo não pertencer a ele.

Acreditar ser potente ao enfiar a cabeça na latrina de broxadas que a sociedade nos oferece.

Amar, amar, amar e mesmo assim, ser criança mimada, porque só as crianças sabem o sentido da vida.

O sentido da vida é o amor, que, por aqui, dura um segundo, quando meu filho me beija na boca.

E lá, é eterno, onde os rios formam seus afluentes na corrente sanguínea do universo.

Flanar por cima do mundo ordinário dos homens cegos pela dor

Alçar voo para o abismo.

Viver com o coração na boca.

Ser um bicho selvagem e uma alma sublime, antagonicamente.

Tocar o céu e o inferno ao mesmo tempo.

Não pedir licença para desejar a vida.

Submergir na dor e emergir para o amor.

Recriar as minhas vísceras fora de mim.

Conversar com o coração, uma conversa surda e profunda como palavras dentro d’água. Jorrar o gozo divino do corpo carnal.

Eternizar, no nada, o ato revolucionário de um gesto efêmero.

Brincar de raposa com os seres que acreditam ser o mundo um galinheiro.

Provocar em ti o amor e o ódio, na mesma medida, para que me enlouqueça de desejo e mostre seu ardor.

Ser capaz de compreender o mundo complexo e genial que você habita.

Morar no seu planeta mesmo sabendo não pertencer a ele.

Acreditar ser potente ao enfiar a cabeça na latrina de broxadas que a sociedade nos oferece.

Amar, amar, amar e mesmo assim, ser criança mimada, porque só as crianças sabem o sentido da vida.

O sentido da vida é o amor, que, por aqui, dura um segundo, quando meu filho me beija na boca.

E lá, é eterno, onde os rios formam seus afluentes na corrente sanguínea do universo.

Carolina Kasting ©ALL RIGHTS RESERVED